Hoje o livro que vos trago é o "Tirar e Pôr", da autora Lucie Félix, publicado pela Orfeu Mini, pertencente à editora Orfeu Negro.
E é um livro com movimento porquê?
Porque no seu interior, ao contrário da maioria dos livros, não há uma estória textual. Há sim, em vez disso, peças com formas geométricas simples - círculos, triângulos, quadrados ou retângulos, a mais distinta é a forma de uma nuvem - que vão desencaixando na página em que se encontram e voltam a encaixar-se na página seguinte. Em todas as páginas apenas se encontra uma única palavra - verbos, transparecendo ações -, que se relaciona sempre com a palavra que consta na página seguinte ou anterior - são opostos uma da outra. Exemplificando, o primeiro par de palavras corresponde precisamente ao título do livro "tirar" e "pôr".
Este é um livro com uma grossura considerável, incluindo a lombada, as peças e cada uma das páginas, sendo um livro composto por um cartão grosso. Não existem guardas, pois assim que o livro é aberto inicia-se logo a experiência. É, no entanto, curioso que a primeira e última página se dediquem a instruções, em letras maiúsculas, assemelhando-se a carimbagens, que indicam como começar e terminar o livro. Passo a citar a primeira página:
"PARA BRINCARES COM ESTE LIVRO,
RETIRA A PEÇA DE CARTÃO
QUE ESTÁ NA PÁGINA DA DIREITA.
SEGURA-A BEM E VIRA A PÁGINA.
VAIS ENCONTRAR O SÍTIO CERTO
PARA A ENCAIXAR.
E JÁ ESTÁ!
AGORA É SÓ CONTINUAR!"
Na minha opinião, este é um livro que, por ter uma abertura tão grande, permite ser explorado de diferentes maneiras. Pela sua resistência, sugere que pode (e deve) ser explorado, mesmo pelas mãozinhas mais pequenas. O ideal é mesmo é explorar individualmente ou no máximo com grupos de 2/3 crianças, verbalizando as palavras que constam em cada página e até, quem sabe, talvez com os mais velhos, desconstruir o significado de cada uma delas, ou seja, o que significa cada uma dessas ações, ou até mesmo construir uma estória que una todas essas palavras.
No final, é desejável que a(s) própria(s) criança(s) faça um rewind, isto é, voltem a percorrer o livro, desta vez do fim para o início, recolocando as peças nos seus lugares originais. Não só é uma forma de recapitular os opostos e verbos, como também de incentivar à responsabilização, deixando o livro pronto para ser explorado novamente.
Pessoalmente, nunca levei este livro para o contexto sala, uma vez que tenho receio do impacto que a exploração dos meus tesouros pode ter, sobretudo no desgaste das peças e encaixes. Comprei-o na Feira do Livro de Lisboa no ano passado, 2017,a pensar precisamente na creche e na exploração fantástica que este livro proporcionaria, no entanto nunca tomei coragem para o levar. Acho que, para já, permanecerá na minha biblioteca.
Para quem tiver mais coragem do que eu, este é um livro fantástico para desenvolver projetos e/ou explorações acerca de divesos temas, tais como:
Cores;
Formas geométricas;
Opostos;
Luz.
Uma simples forma de explorar após o livro as ações referidas, pode ser através de um cesto das surpresas artilhado com os chamados materiais de desperdício - tampas, garrafas, caixas de ovos, papéis de diferentes texturas e cores, caixas de cartão, tecidos variados, entre outros.
Conhecem este livro? Têm diferentes ideias para desenvolvê-lo? Partilhem comigo!
Aqui vos deixo uma curta animação, para poderem dar uma vista de olhos a partir da vossa casa.
Para começar esta semana trago-vos outra maravilhosa obra presente na minha biblioteca: "Os Três Terríveis Porquinhos", texto e ilustrações da autoria de Liz Pichon, publicada pela Editora Educação Nacional e acrescentando ainda que, na altura em que o comprei (junho de 2011), encontrava-se incluído no programa LER+.
Ao contrário do último livro que vos trouxe, "Palhaço", este é um livro com imenso texto e com diversos recursos para o animar, tais como dispersão de texto entre as ilustrações, ondulação das frases (sobretudo das que dizem respeito ao soprar), expressões e/ou palavras com efeito negrito, entre outras, o que desperta alguma atenção ao código escrito por parte das crianças.
Este é um livro que reflete outra perspetiva do conto tradicional que todos conhecemos, revelando um dark side dos nossos porquinhos. A estória inicia-se com a mãe Porquinha a passar-se da marmita com os seus maravilhosos rebentos, que eram nada mais, nada menos, do que a verdadeira personificação do termo porquinho: marotos, irresponsáveis, desarrumados, insensíveis, egoístas, preguiçosos. Então a mãe resolveu pôr um ponto final e deixá-los responsáveis por si mesmos, parecendo-me a mim que esta seria uma estratégia para lhes dar a motivação para que crescessem. Só que, claro está, não é num piscar de olhos que eles irão mudar, havendo um fantástico lobo - simpático, altruísta, cheio de compaixão - que os tenta ajudar, mas claro... não será fácil! Deixo-vos a sinopse da contracapa:
"Os três terríveis porquinhos são muito travessos e estão sempre a fazer asneiras. Cansada das suas constantes tropelias, a sua mãe decidiu enviá-los à sua própria sorte. Muito preguiçosos, os dois primeiros porquinhos construíram as suas casas, roubando plaha e ramos. Por sua vez, o terceiro porquinho instalou-se sem autorização numa capoeira.
Que porquinhos tão terríveis! Será que o simpático lobo conseguirá mostrar-lhes o bom caminho?"
É um livro com ilustrações super amorosas e com cores vibrantes, de tal maneira que até o porquinho punk nos parece absolutamente fofinho, e que sugerem a oportunidade para dramatizar, uma vez que inserem frequentemente momentos de discurso direto. As dimensões são as regulares para um livro infantil, assim como a sua grossura de lombada e páginas de expessura fininha.
Não só pelas características físicas do livro, mas também pela duração da estória, penso que será mais adequado a crianças a partir dos 3 anos, até porque também é a partir daqui que começam a conseguir ter algumas consciência do que é estar no lugar do "outro" e assim conseguir comparar diferentes perspetivas. Este é um enredo que nos vem contar outra versão da mesma estória, a clássica de "Os Três Porquinhos", mostrando que não existem pessoas/personagens boas ou más, mas sim que cada um de nós tem um bocadinho de bom e de mau dentro de si mesmo.
Para desenvolver esta estória, considero fundamental entrelaçá-la com a original e clássica e penso que estas duas dinamizações são excelentes para se enquadrarem num projeto de dramatizações. Porque não criar uma pequena sessão de teatro em que são eles que contam esta estória? Podem ser convidados outros amigos da mesma sala, amigos de salas vizinhas ou até mesmo as famílias. Podem também ser escolhidas diferentes formas de dinamização: tanto é possível que as crianças sejam os atores e criem os seus próprios adereços e cenários, como podem ser construídos com eles fantoches - idealmente a partir de materiais de desperdício . Na minha opinião é importante que, caso se opte por este tipo de projeto, os livros sirvam de base para a construção da estória, mas que a mesma se baseie no reconto feito com o pequeno grupo envolvido neste projeto.
Mas este é um tema que dá pano para mangas e que consegue ser explorado à luz das diferentes áreas de desenvolvimento, uma vez que esta estória permite ainda:
Construir as regras da sala e desenvolver valores sociais e morais;
Explorar os materiais usados nas casas, falar sobre os recursos da natureza, testar quais os mteriais que são mais resistentes ao vento e/ou quais os que flutuam na água;
Conhecer diferentes técnicas de expressão plástica para construir os fantoches/adereços para a dramatização e/ou para registar a estória;
Elaborar o reconto escrito, incluindo um guião para a dramatização;
Conhecer canções sobre porquinhos , podendo também explorar sons mais agudos e sons mais graves (porquinhos vs. lobo);
Criar uma mesa/caixa/espaço de exploração dos sentidos dentro do tema dos três porquinhos;
Experimentar o código escrito e desenvolver a consciência fonológica, através da construção de uma caixa de palavras, ilustrando as palavras-chave da estória, brincando com as maiúsculas/minúsculas, entre outros.
Todas estas ideias e muitas mais estão recolhidas por mim na minha conta do Pinterest, na qual tenho um álbum unicamente dedicado a este tema. Podem espreitá-lo aqui.
E vocês? Qual a versão de que gostam mais: os certinhos ou os travessos?
Com um domingo quente a terminar, independentemente de estarmos de férias ou não, estamos todos a preparar-nos para uma nova semana, que certamente nos trará diferentes desafios, surpresas e muitas aprendizagens. Só nos resta a nós decidir como as vamos encarar e superar os nossos obstáculos.
Assim sendo, apenas me resta desejar a todos uma ótima semana, sempre com leituras presentes, pois a ler conseguimos viajar para um mundo novo, onde vivemos verdadeiras estórias de encantar.
"Palhaço", da autoria de Quentin Blake, da editora Caminho - coleção Borboletras -, premiado com o Prémio Bologna Ragazzi.
Porquê este livro em primeiro lugar? Bem, é difícil apresentar os livros da Biblioteca da Inês pela ordem de aquisição, uma vez que não consigo determinar ao certo quando é que comecei a comprá-los com o propósito de serem para a minha coleção. Foi antes uma espécie de mistura entre o "vai ser-me útil" e o "gosto mesmo dele".
Conheci-o pela primeira vez ainda em contexto de estágio, através de uma dinamização na biblioteca da escola e confesso que fiquei rendida, tanto que, na minha rumaria seguinte à Bertrand, entrou para a estante. Este livro tem uma particularidade que o distingue: é um livro sem texto, cuja estória é narrada única e exclusivamente através das ilustrações. É um livro fininho, com uma grossura semelhante aos livros de colorir, e com uma lombada tão pequena que mal é possível ler o título do livro. As páginas são também de espessura fina, mas com uma resistência razoável.
Quer a estória, quer as ilustrações são simplesmente irresistíveis, com um estilo de pintura em aguarelas e com um desenho bem expressivo. De uma forma breve, o Palhaço, personagem principal da estória, é colocado no lixo, no meio de um grande conjunto de brinquedos. Assim que fica sozinho, consegue desembaraçar-se, aperaltar-se e sair em busca de ajuda para conseguir tirar todos os outros brinquedos do caixote do lixo, fazendo desta a sua missão. Nesta demanda, o pobre Palhaço passa por muitas peripécias para tentar alcançar o seu objetivo e é simplesmente enternecedor o seu ar de desespero. É uma espécie de Ben Stiller, mas em vez de ter um ar desesperado cómico, é bastante fofo e expressivo.
É um livro que eu já utilizei diversas vezes em atividades, inclusivamente em contexto de creche, mas sou da opinião de que, para ser verdadeiramente analisado e refletido, o ideal é que seja desenvolvido com crianças em idade de pré-escolar e preferencialmente em pequenos grupos. As sequências de ilustrações inundam o livro, por vezes numa só página existem 5 ilustrações com diferentes dimensões e com alguns pormenores importantes para o desenrolar da estória, o que leva a que as crianças tenham tempo e espaço para observar e comentar tudo o que estão a ver.
E essa é a melhor parte e a parte pelo qual mais o uso no trabalho: como não há uma estórias escrita, apenas desenhada, as palavras e construções frásicas podem ser as das crianças. Quando recorri a este livro foi precisamente essa a minha intenção, levar o grupo a contar a estória, aproveitando para a registar e, inclusivamente numa dessas atividades, aproveitamos para fazer um registo reconto do livro, com frases e ilustrações das crianças.
"Palhaço" é um livro que aborda diversos valores: amizade, lealdade, entreajuda. Na minha perspetiva, é uma estória que mostra que somos mais fortes quando nos unimos e que o que damos de nós é-nos sempre retribuído. Aconselho vivamente a aquisição e leitura deste livro.
Foi desde cedo que fiquei por livros e pelo simples ato de ler. Tive alguma sorte, pois ainda os meus colegas se interessavam pela Banda Desenhada da Turma da Mónica ou do Tio Patinha, já eu gostava de ler livros com mais texto e menos figuras, como, por exemplo, "A Lua Não Está À Venda" da ilustre Alice Vieira. Ler foi, desde cedo, uma atividade na qual me perdia horas a fio, sem dar conta do tempo a passar, sempre com a intenção de ler só mais uma página... Quem gosta de ler nunca deu por si às 4h da manhã e o livro quase a terminar, a pensar que agora é que tinha mesmo de fazer o "jeitinho"?
Por via das circunstâncias e pelo rumo que a vida foi tomando, os livros infantis nunca saíram do meu radar, antes pelo contrário, foram se instituindo como uma curiosidade, afinal de contas estava apenas a apropriar-me de ferramentas de trabalho. Pouco a pouco, a secção infantil passou a estar no meu itenerário de todas as livrarias, bancas ou Feiras do Livro , deixando de ser somente uma "cena do trabalho" para me tornar uma bibliofila assumida, neste caso, com uma fixação forte nos livros para crianças.
Atualmente tenho aquilo a que considero uma mini biblioteca de livros infantis e todos eles foram lá parar após me terem conquistado. Há aqueles muito "sem vergonha", que são facéis - basta olhar para a capa e fico rendida, ainda folheio duas ou três páginas iniciais para ver se iludo quem está à minha volta, mas na verdade desde o primeiro segundo que tinha decidido que o ia comprar.
Depois há os outros, os que parecem simpáticos - aqueles que preciso de manusear, "ler na diagonal", analisar as ilustrações. E ainda nesta categoria, há aqueles que me convencem neste primeiro contacto e há os outros que vão para a lista de espera... Aquela que nunca acaba, aquela que está em constante adição e que dá tanto jeito a quem precisa de inspiração para me dar um presente. E não se iludam, porque, mais tarde ou mais cedo, acabam sempre na minha mão.
Após chegarem à biblioteca, podem ter muitos destinos. Podem ser aqueles que saiem e passam umas temporadas no meu trabalho, ou os que me servem de consolo para os dias cinzentos, ou até aqueles que são tão especiais que só podem ser mexidos por mim e que por isso estão mais escondidos, entre aqueles de lombadas largas e coloridas.
A minha biblioteca é assim, um dos meus tesouros pessoais mais ricos que posso ter e por isso gostava de partilhar um bocadinho do que lá está com todos os que estiverem nessa disposição.